Por Integra Diversidade
Nos últimos 15 anos o número de pessoas trabalhadoras acima dos 50 anos dobrou em todo o Brasil. Atualmente, mais de 9 milhões de cidadãos com este perfil possuem carteira assinada no país. É o que apontou um levantamento realizado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), publicado em maio de 2023.
Dados anteriores e uma análise deste estudo podem confirmar um cenário já conhecido: a população brasileira está ficando mais velha. De acordo com o Ministério da Saúde, até 2030 o número de pessoas com mais de 60 anos será maior que o de crianças entre 0 e 14 no país. O que nos leva à seguinte questão: temos o dever de enxergar essa informação além das estatísticas, de forma humanizada, em especial quando falamos de mercado de trabalho.
E não se engane, isso está dentro do ESG (Ambiental, Social e Governança). A sigla, que está em pauta em todo o mundo, deve ser adotada integral e verdadeiramente pelos negócios que querem se destacar frente à concorrência.
As organizações estão preparadas?
De acordo com o levantamento do Senai, pessoas 50+ estão presentes em todos os setores: comércio, serviços e indústria, essa última registrando 1,5 milhão de representantes em 2020. E como as empresas têm se estruturado para receber essa mão de obra?
É necessário criar condições para oferecer um ambiente profissional adequado ao pleno exercício das funções, permitindo a aplicação de todas as capacidades. Além disso, é indispensável que se ofereça planos de carreira com reais possibilidades de crescimento, formações em competências técnicas e interpessoais, além de mentorias reversas. Esta faixa etária não pode ser vista apenas como um “tapa buraco” e como se não houvesse perspectiva de futuro, já que a expectativa de vida atual no Brasil, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), é de 77 anos e aumenta todos os anos.
Aqui, falamos da maneira que esses talentos vão interagir em equipes de identidades e perfis plurais, como se encaixam em contextos de inovação rápida e lidam com novas tecnologias e processos – e como a organização trata essas questões. O cenário é muito mais complexo do que apenas contratar e deixar a adaptação nas mãos das pessoas que já atuam nos times.
Pessoas 50+ e a desconstrução de estereótipos
A pauta trazida nesta pesquisa da indústria também traz outra reflexão sobre o etarismo, que, por definição, refere-se ao preconceito baseado na idade, que prejudica a entrada ou permanência de pessoas fora do “padrão” no mercado.
O ponto mais evidente, claro, é aquele que separa as pessoas mais velhas de suas carreiras profissionais. Algo que já notamos a partir dos 40 anos. Vale reforçar que as empresas têm obrigação de proteger (de dentro para fora e vice-versa) sua cadeia de valor, não apenas de diversificá-lá.
Mas há também o cenário oposto, embora menos frequente, que envolve quem é mais jovem. Em muitos setores ser jovem é visto como falta de conhecimento ou de responsabilidade, o que leva à conclusão de que se trata de “mau profissional”. Essa forma de etarismo também deve ser combatida.
Por isso, a criação de políticas de DEIP (Diversidade, Equidade, Inclusão e Pertencimento) é um movimento que vai muito além da contratação. Dentro desta perspectiva, as iniciativas dessa frente ajudam a integrar times, evitar situações de preconceito e constrangimento, além de fortalecer o ESG dos negócios.
Interseccionalidade: mesmo acima dos 50, mulheres são minoria
O levantamento também abrange a participação de mulheres com mais de 50 anos no mercado de trabalho formal. Nos últimos 15 anos, o crescimento foi de 120%. Mas nem tudo são flores, já que elas ainda representam menos da metade da força trabalhadora, ocupando apenas 42% desse mercado. Além da baixa remuneração e valorização, o setor corporativo também descarta mais facilmente a mão de obra feminina não só após a licença maternidade, como após certa idade.
Essa larga diferença não é justificável nem mesmo por questões demográficas, afinal, a população brasileira é composta por maioria feminina (51,1%), enquanto os homens somam 48,9%, de acordo com a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio), do IBGE. Tal brecha de gênero intensifica-se com mais intensidade após os 40 anos Para completar, vale lembrar que as pesquisas ainda não consideram as interseccionalidades (pessoas que fazem parte de mais de um grupo sub-representado). Se isso acontecesse, com certeza ficaria clara a desigualdade ainda maior.
Então, eis a pergunta: o que falta para a sua empresa ser mais diversa, em especial com perfis etários diferentes?