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maio 3, 2022
Quantas maternidades cabem dentro da palavra Mãe?

Por Elisabete Sacon, Consultora de Diversidade, Equidade e Inclusão

Costumo dizer que o mundo da maternidade é como um grande portal por onde você entra e, o tempo todo e para sempre, vai encontrar muitas outras portas. Algumas podem ser grandes, outras menores, mas o fato é que Maternar é um grande convite à transformação.

Já começo respondendo à pergunta inicial, sobre quantas maternidades cabem dentro da palavra mãe: são muitas e diversas, mas será que elas estão sendo incluídas?

Ser responsável pela criação de outro ser humano é algo complexo e desafiador. Muitas mulheres o fazem sozinhas (segundo o IBGE, o Brasil tem quase 12MM de mães solo e, segundo o Instituto Vidas Raras, quase 80% das crianças com algum tipo de doença rara sofre abandono afetivo paterno) e às vezes assumem essa responsabilidade mesmo estando em relacionamentos – afinal, dentro da lógica de gênero, o cuidado de outro ser humano é algo natural, exclusivo e destinado às mulheres. A sociedade pouco exige da figura paterna que, se fizer menos que o mínimo no cuidado de uma criança, logo recebe a etiqueta do paizão do ano.

Receber o título de mãe de alguém te coloca para fora de muitos ambientes, desde mercado de trabalho (segundo estudo da FGV, 50% das mulheres saem do mercado do trabalho em até 2 anos após o retorno da licença), até o bar descolado da cidade. O funcionamento do mundo e as políticas públicas pouco são pensadas para as crianças e, por consequência, excluem sumariamente as mães, mas nunca, ou quase nunca, os pais.

“Mãe é tudo igual”, “mãe raiz x mãe Nutella”, “nasce uma mãe, nasce uma culpa” e tantas outras máximas, colocam a categoria “mãe” em um único pacote, ignorando suas existências, suas histórias, suas etnias, suas orientações e suas identidades de gênero.

Se mãe é tudo igual mesmo, será que as referências, transformações e preocupações de uma mãe branca são as mesmas de uma mãe negra? As da mãe cis são as mesmas da mãe trans? Da mãe hétero são as mesmas da mãe lésbica? O que dizer da mãe que perdeu sua criança e, portanto, perdeu o direito ao seu lugar? E quando é o homem trans que gera a vida? Que outros desafios adicionais se colocarão pelo caminho?

Que anseios, apagamentos e situações este grupo chamado Mãe, oprimido pela propagação do instinto materno inerente, é duramente atravessado por outras camadas considerando o lugar de fala de cada uma?

No nosso Dia das Mães não há espaço para a romantização da carga materna e para as opressões de gênero. Queremos propor uma ampla e profunda reflexão sobre o compartilhamento da carga do cuidado e sobre os novos significados de família. É sobre enxergar, reconhecer e apoiar todas as maternidades que cabem e resistem dentro da palavra MÃE.