Por Mariana Di Stella Piazzolla, Consultora de I&D.
Foto de Eternal Happiness retirada do site Pexels
“Em briga de marido e mulher ninguém mete a colher” já sabemos que é um ditado popular datado. Desde que o Estado aprovou a Lei 11.340/06, mais conhecida como Lei Maria da Penha, a violência doméstica que historicamente mulheres sofrem tornou-se uma questão de política pública e de responsabilidade de todos e todas. Mas e as empresas, como metem a colher, nesses casos?
As Políticas de Diversidade que promovem ações para apoiar a equidade de gênero costumam atuar mais fortemente no combate ao assédio moral e sexual no mundo corporativo, porém raramente atentam para o fato de que suas colaboradoras sofrem violência doméstica e que este é um tema na qual podem fomentar ações.
Imagine uma mulher que sofre perseguição de um ex-namorado/conjugê e não está respondendo às mensagens no seu telefone particular e tem estratégias pessoais para não ser encontrada por ele. No entanto, ele resolve ligar para a empresa na qual ela trabalha. As colegas de equipe não sabem o que está acontecendo e por isso contam detalhes de onde a colaboradora está naquele momento, suas rotinas e informações que talvez ele não devesse ter acesso pois pode colacá-la em risco. Como evitar que esta colaboradora esteja mais vulnerável dentro da empresa?
De acordo com a pesquisa “Violência e Assédio Contra a Mulher sob a perspectiva do mundo corporativo” realizada pelo Instituto Maria da Penha, junto ao Instituto Vasselo Goldoni e o grupo de recrutamento profissional Talenses Group, apenas 19% das empresas possuem ações para apoiar colaboradoras vítimas de violência doméstica.
Este tema talvez ainda seja pouco trabalhado nas Políticas de Diversidade porque as empresas não sabem o que podem fazer para auxiliar estas mulheres, mas elas estão lá e sofrendo. Sabemos que uma mulher é agredida por um homem a cada 4 minutos e 70% dos casos ocorrem na residência, além disso, a pesquisa do IPEA, lançada ano passado, mostrou que o índice de violência contra mulheres que integram a população economicamente ativa (52,2%) é praticamente o dobro do registrado pelas que não compõem o mercado de trabalho (24,9%). Uma das possíveis explicações é de que a entrada das mulheres no mercado de trabalho contraria o papel socialmente atribuído a elas – o trabalho doméstico realizado em casa – e isso acarretaria em um aumento de tensão entre casais, resultando em casos de agressão.
Portanto, se essas mulheres estão majoritariamente nos mundos do trabalho, elas podem ser penalizadas duplamente, em casa e no trabalho, caso a empresa não tenha promovido ações de apoio, uma vez que tendem a apresentar queda de produtividade e absenteísmo que possivelmente serão interpretados como falta de motivação quando na verdade elas estão em uma situação de vulnerabilidade.
Isto quer dizer que o compromisso com as Políticas de Diversidades nas empresas com relação à equidade de gênero no que diz respeito à igualdade salarial, promoção de mulheres em cargos de liderança, combate ao assédio etc, está intrinsicamente ligado às ações de apoio às colaboradoras que sofrem algum tipo de violência doméstica, condição essa necessária à permanência de mulheres nestes espaços. O que a empresa na qual você trabalha faz? Vamos meter a colher juntos e aproveitar o início de ano em que comitês e grupos de diversidade estão elaborando metas e atividades para 2020 para incluir também ações neste sentido?
Observação: É preciso lembrar que a violência contra a mulher não é apenas a violência física, a Lei Maria da Penha define as formas de violência como física, sexual, psicológica, moral e patrimonial.