Por Felicia Alenjandrina Urbina Ponce, Consultora de DEI
Foto: Ato Vidas Negras Importam em 07/06/2020, Belo Horizonte/MG, por midianinja.
#acessibilidade: foto branco e preto onde pessoas em uma manifestação na rua, seguram uma faixa escrita “Vidas Pretas Importam”
Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar.
(Nelson Mandela)
Ao refletir sobre o “Dia da Consciência Negra” – no qual “consciência” pode ser literalmente entendida como tornar-se consciente de, fazer-se sabedor – fico imaginando a força que essa palavra carrega para além da celebração de uma data de tamanha relevância. Isso porque a expressão remete à compreensão da importância da cultura e da história da população negra no mundo, entendimento ainda não alcançado e, em algumas situações, até ignorado. No entanto, se olharmos a celebração sob uma perspectiva da densa mobilização que promove essa notável data, acredito que esta reflexão e suas ações conjuntas possam enveredar para a expressão “consciência” na sua amplitude e materialidade.
O contexto econômico-social e político do Brasil colônia evidenciou que não houve interesse em consolidar uma sociedade igualitária. Ao contrário, foram criados fortes mecanismos que legitimaram a manutenção e a construção deliberada de um pensamento que organizou a sociedade brasileira justamente para segregar e distanciar. A falácia da tal “abolição da escravidão”, substantivo feminino que remete à ideia de total extinção, anulação, supressão, constitui até nossos dias, um pseudopensamento de liberdade sem direitos.
A realidade brasileira nos mostra que, nesses quase dois anos de pandemia, questões relacionadas ao racismo e à discriminação da população negra têm ganhado força e os debates têm tido maior amplitude e capilaridade na sociedade, como mostram os movimentos Black Lives Matter (ou Vidas Negras Importam, aqui no Brasil). Esse novo contexto, sem dúvida, oportuniza o desenvolvimento de múltiplas iniciativas para desconstruir o pensamento estereotipado de que, por sermos pessoas negras, teríamos direito a poucas coisas. Além disso, ele também desenvolve estratégias e programas que facilitam a inclusão deste grupo sub-representado em todas as instâncias da sociedade. Lembrar sempre que não somos “inferiores” e sim “inferiorizados” e que não fomos “escravos” e sim “escravizados”.
Para isso, se faz necessário que, como pessoas negras, tenhamos o entendimento de que nossa experiência foi fragmentada, nossa história cheia de ausências, com um passado carregado de omissões e um futuro marcado com proibições. São estas variáveis que, com certeza, são o combustível que nos encoraja e impulsiona a permanecer lutando por um mundo mais igualitário.