/ Pessoas LGBT e as dificuldades no mercado de trabalho: sua empresa pode transformar essa realidade

set 13, 2019
Pessoas LGBT e as dificuldades no mercado de trabalho: sua empresa pode transformar essa realidade

Por

Imagem: Pikisuperstar

A empresa que você trabalha tem pessoas abertamente LGBT? Você já participou de algum processo seletivo com uma mulher trans ou travesti? A sua colega de trabalho fala abertamente que é casada ou que namora com outra mulher? Você já contratou um homem trans? A equipe que você lidera tem alguma pessoa trans não binária? No seu intervalo do almoço você socializa com um homem gay? Se você respondeu não para a maioria destas perguntas, é porque a empresa que você trabalha ou lidera precisa avançar substancialmente na inclusão e diversidade!

De acordo com a pesquisa feita pelo site de recrutamento Elancers, 20% das empresas que atuam no Brasil não contratam lésbicas, bissexuais, gays, travestis e transexuais em razão da sua orientação sexual e identidade de gênero. Deste valor, 11% delas só contratariam se a pessoa não ocupasse cargos de decisão ou níveis superiores. 61% das pessoas LGBT empregadas escolhem esconder de colegas de trabalho a própria sexualidade, segundo o levantamento Demitindo Preconceitos da Santo Caos.

Quando se trata da população trans e travestis, as dificuldades se aprofundam ainda mais, pois é comum que muitas destas tenham sido excluídas da escola desde as séries iniciais, expulsas de casa pela família ou totalmente apagadas do mercado de trabalho formal, fatos que corroboram para que 90% das pessoas trans e travestis no Brasil tenham que recorrer à prostituição, segundo a Rede Nacional de Pessoas Trans – Brasil. 

O preconceito e a exclusão de pessoas que têm vivências dissidentes e práticas afetivas e sexuais que divergem dos padrões dominantes cis-heteronormativos, são situações bastante presentes e, infelizmente, comuns no mercado de trabalho. A discriminação pode acontecer no período de divulgação das vagas da empresa, na seleção e contratação das pessoas candidatas (fase pré-contratual) ou durante a jornada diária de trabalho (fase contratual). 

Na fase inicial de recrutamento e seleção, a discriminação de lésbicas, bissexuais e gays acontece por profissionais de RH que muitas vezes, por meio de questionamentos e investigações sobre a vida pessoal, tem o intuito de descobrir se a pessoa candidata é LGBT ou não. É bastante comum que em processos seletivos avaliem o comportamento da pessoa candidata à vaga de trabalho, contudo a discriminação e preconceito aparecem quando o foco é avaliar se a postura da pessoa é carregada de estereótipos que fogem do modelo heteronormativo esperado. As pessoas trans e travestis, em relação à sua inserção no mercado de trabalho, geralmente não passam deste contato inicial, pois sua a identidade de gênero não pode ser “omitida” e elas não são contratadas por serem quem são. Desta forma, existe uma constante rejeição e exclusão de pessoas LGBT nos processos seletivos.        

Durante a jornada diária de trabalho, quando pessoas LGBT ingressam nas equipes das empresas, no caso de lésbicas, bissexuais e gays, muitas preferem esconder sua orientação sexual por medo de preconceito ou por estar em um ambiente que é majoritariamente heterossexual e hostil. Para as pessoas que tem sua sexualidade abertamente assumida em seu trabalho ou se identificam enquanto trans e travestis, se a empresa não tiver uma política interna consistente e abrangente de inclusão e diversidade, estas pessoas estão sujeitas a piadas,  assédio, violência ou exclusão. Por estes motivos e outros pessoas LGBT não permanecem muito tempo nas empresas ou nem sequer são contratadas.   

É importante que os negócios tenham consciência de sua responsabilidade em relação à empregabilidade de pessoas LGBT e da possibilidade de transformar essa realidade. O trabalho é um direito de todas as pessoas e esses direitos precisam ser garantidos às lésbicas, bissexuais, gays, trans e travestis.

O papel da empresa empregatícia nesse contexto de discriminação no ambiente de trabalho é bastante importante. É essencial que a empresa reveja a proposta de valor de sua marca, repasse os novos valores constantemente para a equipe, realize treinamentos focados em diversidade e inclusão, disponibilize vagas que sejam atrativas e inclusivas para pessoas LGBT, que tenha uma política de diversidade e inclusão dentro da empresa e que, se não souber por onde começar, pesquise bastante e contrate profissionais especialistas em diversidade e inclusão no âmbito empresarial.  
Empregar pessoas LGBT não está relacionado apenas ao acesso e estabilidade no emprego, mas ao direito a um ambiente inclusivo onde todas as pessoas possam desenvolver integralmente seu potencial, sem discriminação ou impedimentos à carreira, com tratamento de equidade, respeito e liberdade para se expressar e ser quem é sem constrangimentos ou violências. Pensar em inclusão e diversidade dentro das organizações tem se tornado um caminho essencial para um mundo verdadeiramente mais justo, empático e plural!

Camila Couto. Consultora do Eixo LGBT.

Referências: Editora realize; Redes Trans Brasil; UNAIDS Brasil